Um Reino Unido nem tão unido assim

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Eleições locais provam à falta de apoio a proposta de Brexit ‘rígido’ de Theresa May e total rejeição ao partido de Farage, que gerou a ideia de saída da comunidade europeia.

É importante retornar no tempo para que entendamos a atual situação do Reino Unido.

Em 2016, o britânico teve o direito ao voto no referendum para o Brexit. David Cameron, então Primeiro Ministro, estava seguro de que seu povo apoiaria suas ideias de continuar parte da Comunidade Europeia com direitos diferenciados, porém as 4am do dia 24 de junho, o mundo ficou chocado com o resultado (51,89% x 48,11%) e a moeda britânica caíram 20% em menos de três meses, chegando ao menor valor em 31 anos.

Para influenciar a massa ou não, a data do referendum foi marcada para o mesmo período de chegada dos refugiados do oriente médio, confundindo muitos dos eleitores que votavam contra o imigrante em geral e os benefícios a eles cedidos, não contra o europeu.

A teoria mais interessante, e provavelmente mais verdadeira, é de que o dono do maior grupo de comunicação do mundo manipulou toda a causa e ganhou apoio parlamentar em troca de favores. De acordo com as novas medidas ditadas pela Comunidade Europeia, meios de comunicação teriam de pagar até 40% dos lucros em impostos e a única solução seria ter sede em um país que não fizesse parte da comunidade e consequentemente, contariam com isenção de impostos.

Com os resultados do Brexit, Cameron, o líder do partido conservador e também primeiro ministro renunciou, deixando a vaga aberta por alguns dias. Após eleição interna, Theresa May, então Ministra do Interior, tornou-se líder do partido e apontada como a nova Primeira Ministra do Reino Unido, montando um novo gabinete e para substituí-la, Amber Rudd foi nomeada. Theresa deixava um rombo no departamento de Imigração e há menos de uma semana, Rudd pediu demissão com a desculpa que desconhecia os fatos e as cotas de deportação. Esta foi a quinta substituição que Theresa May teve de fazer durante seu tão curto governo, recheado de escândalos.

Considerada a pior chefe de estado de todos os tempos e com tamanha rejeição popular por não ter sido eleita diretamente, May pediu eleições gerais em 2017, onde perdeu maioria parlamentar e viu-se obrigada a pagar uma cara parceria com a Irlanda do Norte de £1billion (cerca de R$ 4.8bilhões). Somados, o partido conservador e o partido Irlandês DUP contam 326 posições (316 + 10), e sem maioria absoluta, toda e qualquer decisão deve ser discutida e votada pelo corpo parlamentar, bem como todo o processo referente ao Brexit.

 

A tradição no Reino Unido dita que as publicações noticiosas, jornais e revistas, anunciem antes das eleições o apoio a uma candidatura.

 

 

Recentemente, o Reino Unido, que nunca se recuperou da crise de 2010, passa a apresentar grande risco político e econômico mais uma vez, graças a desunião causada pelo Brexit e suas diretrizes. Com a moeda em baixa e o maior numero de desempragados da historia, e os principais sistemas de estrutura – educação e saúde que não funcionam, o povo britânico busca por esperança e uma nova alternativa em seu governo e as grandes empresas estrangeiras buscam sedes em outros países. A grande surpresa veio do grupo norte Americano Wal-Mart que vendeu nesta semana 30% de suas cotas para o grupo britânico Sainsbrurys.

A maioria dos meios de comunicação que historicamente mostravam suporte ao partido conservador, agora encontram-se divididos e as historias do Brexit ganham pontos de vista muito distintos.

O partido dos trabalhadores (Labour) apostou toda sua energia em Jeremy Corbyn e sua teoria de ‘governar para todos, não para os poucos’. No papel, um homem de bem, de princípios idôneos, mas que vem enfurecendo ate mesmo seus seguidores e colegas de partido. Bastante político, já recusou um encontro com a rainha, declara abertamente sua posição pelo fim da monarquia, mas nunca deixou clara sua posição em relação ao Brexit. Recentemente foi acusado de apoiar grupos antissemitistas e na semana das eleições locais onde seu partido teria a maior chance de dar um novo rumo a historia, Corbyn rebela-se contra a ideia de uma nova oportunidade para o povo decidir o Brexit e ameaça com afastamento seus coligados que votarem a favor. A votação no parlamento para um segundo referendum terminou com 202 votos a favor e 260 contra. Porem, esta votação teve suas consequências.

Nas eleições locais de três de maio, Corbyn perdeu grandes áreas eleitorais como Barnet, tradicionalmente dos partidos dos trabalhadores. Mas por ser a área de maior concentração judaica no pais, o resultado era esperado após o líder ser criticado por antissemitismo. Ainda tivemos escolas eleitorais como Harlow, área também tradicional do time de Corbyn, onde o candidato conservador ganhou na recontagem por um voto  apenas contra a candidata do partido dos trabalhadores. Já na área de Nuneaton and Bedworth, uma das áreas de maior campanha, Corbyn perdeu oito de suas cadeiras para os conservadores. Neste caso, claramente uma demonstração que Corbyn vem perdendo forca em áreas que são completamente contra o Brexit, mas não foi a única. O quadro repetiu-se em muitas áreas do centro de Londres.

Por outro angulo, o partidor conservador de May perdeu tradicionais áreas de poder como South Cambridge, Kingston-Upon-Thames, Mole Valley e Richard-Upon-Thames, três delas para o partido Liberal Democrático, que tinha perdido muitos de seus fieis eleitores nos últimos anos, desde que eles criaram a nova regra de que a educação superior passaria a ser paga em todo o país.

O partido UKIP de Nigel Farage, responsável pelo referendum do Brexit, que tinha 123 cadeiras de conselheiros, perdeu 120, mantendo apenas três cadeiras em áreas mais tradicionais.

No quadro geral, os conservadores perderam 33 cadeiras, e o partido dos trabalhadores conquistaram novas 77. O grande vitorioso desta eleição foi o partido Liberal Democrático, que ganhou novas 75 cadeiras e o controle de quatro conselhos locais.

Em entrevista exclusiva para o jornal A Hora Online, a Sra. Hopkins, líder local do partido Liberal Democrático e candidata ao conselho de Brent, a segunda maior escola eleitoral do país, afirma que “o numero de afiliados e de votos vieram principalmente de eleitores contra o Brexit, porque o Lib Dem e o único partido que e a favor de que o divorcio com a comunidade europeia não aconteça”.

A candidata acrescenta que, “se Jeremy Corbyn, do partido dos trabalhadores, seu concorrente, seguisse a maioria e renunciasse, teria ganhado as eleições locais com maior margem e também teria ganhado as eleições gerais. Ele e muito político e nunca declara uma posição clara a respeito de nada. Theresa May só continua no poder por falta de uma oposição mais forte e de valores claros”.

O Brexit sem duvida dividiu o pais, gerou promessas que não podem ser cumpridas e tirou boa parte do orçamento de outras áreas. Educação, saúde e segurança foram as mais afetadas. Na educação foram milhões de bibliotecas publicas e centenas de escolas fechadas e vagas universitárias reduzidas. Na saúde, a redução de profissionais e leitos, bem como a pausa em obras hospitalares. A segurança provavelmente foi a que mais sofreu. Para compensar a conta do divorcio com a Europa, foi necessário retirar das ruas 23.000 policiais e diminuir muitas posições nas bordas, suavizando as investigações imigratórias.

Bem diferente da grande promessa do governo vigente por um estado ‘forte e estável’, o Brexit tem provado dia após dia de que o Reino Unido tem um governo fraco e instável.

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